sábado, 31 de outubro de 2009

Frankenstein

Dez horas da manhã. Tenho análise. Meu psicanalista me espera. Não sei sobre o que vamos falar. Não faço script. Sempre é inédito. Talvez revele sobre o sonho que não tive e conte sobre o pesadelo que me persegue: eu nua em cima do telhado. Exposta. Frágil. Merecedora de cuidados. Mas, não falo sobre nada disto. Quando deito no divã, me vêm outros pensamentos.Nada de importante. Meu inconsciente ainda se esconde.Digo banalidades, portanto. Preocupações do meu dia-a-dia. -Use a sua criatividade à seu favor, ouço o meu médico da alma dizer. Abro um sorriso amarelo. Penso:'Tarde Demais'! Já inventei um amor para mim...

E ele tem doído...

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

HQ

Sei tão pouco de você. Quase nada: nome, idade e ocupação. E nem é entrevista de emprego. Não é trabalho. É diversão. Romance. Roda Gigante. Mão dadas. É suspiro. Sonho. Platão. Platônico. Sei que você desenha bem. -Desenha-me um carneiro? Dê me algo de presente. Que eu lhe darei um futuro. O meu. Cheio de letras, versos e linhas. Prometo um mundo cheio de prosa. Sem blá-blá-blá. Você desenha e eu escrevo. E juntos, formaremos uma história em quadrinhos. Um gibi. Que tal?
Não?

-Eu aceito tirinha de jornal!

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Tontura

(de Tontita para Tonton)

Sofro de tontura, tonteira, o que você preferir. Você me faz rir. Eu te faço rir. Gargalhar. Sem precisar contar piada. Apenas brinco de tudo. De ser francesa, pirata ou entender de cinema. Somos duas crianças adultas inventando a felicidade. Escrevendo-a à moda da casa. -Casa comigo? Eu perguntei. E a resposta certa era: 'Para sempre' ou 'Para já'. Mas, você ficou tímido e colocou aquele sorriso de canto de boca que eu adoro. E eu cantei feliz. Encantada. Vivendo o meu próprio conto de fadas no cantinho colorido da minha sala de estar.

E quem vai dizer que isto não é amor?
É amor!!!

(Eu não serei tonta de negar)

sábado, 24 de outubro de 2009

São Paulo- Buenos Aires

Enquanto escrevo, ouço o som que vem do vizinho. Reconheço está música em qualquer lugar. É do grupo Buena Vista Social Club. Não importa a a letra. Nem precisa entendê-la. É de amor que falam, eu sei. Amor à uma terra. À um solo. Y yo sola tambien. Não porque quero. Te quiero! Y estás tan lejos de mi. Espero? Ou te deixo partir? Meu eixo começa a perder o sentido. Desnorteio-me. E tenho desejo de sul. Ardente de 'che'. Me llamas? Que meu corazón já tem chama. Já tem fome. Já tem nome: Es USTED!

Y me muero!
Y me muero
!
(Só para ser dramática)


Ribeirão Preto-São Paulo: 4 horas de ônibus
São Paulo- Buenos Aires: 4 horas de voo.
8 horas nos separam...
...Y algunas platas!

Algunas?

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Do it!

Ele tinha vinte e dois anos e aquela carinha de integrante de Banda. Bandboys ou Boysband, sabe se lá. Um James Bond com vinte e dois anos. E ela bem mais velha. E o que é que tem? Ele perguntou. E o que é que tem? Ela repetiu para o seu ego. O seu superego confuso respondeu: -Vai ser feliz! E quem sabe felicidade não era aquilo mesmo? Ela dançando ao som de Black Eyed Peas com um garoto de vinte e dois anos?

I Gotta feeling that tonight's gonna be a good night
That tonight's gonna be a good night
That tonight's gonna be a good night


Amanhã ela pensaria na loucura. No disparate. No despropósito. Naquela noite, ela só queria dançar...

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Por um Triz

Foi quase um encontro. Quase se apaixonaram. Ela era quase bonita. E ele quase engraçado. E procuraram isso, um no outro. Ela quase ligou para ele. Ele quase a chamou para sair. Mas, não saíram do quase. Quaz-quaz-quaz ele cantava de longe. Quaz-quaz-quaz ela dançava sozinha. Quase formaram um par. Quase foi amor. Por um triz isto não aconteceu. Ela estava tomando coragem. Ele administrando a timidez. Mas, aí apareceu a atriz e roubou toda a cena.
E ela de novo, foi quase feliz...


...Agora procura desesperadamente por um curso. De teatro? Não de literatura.

sábado, 17 de outubro de 2009

Ah! Temporal

Torço para que chova. Quero correr. Pisar em cada poça d'água com toda força da minha delicadeza. Aproveitarei para chorar sem que ninguém perceba. Sem que ninguém pergunte. A minha desculpa será a chuva. E chorarei por tudo, quase tudo ou nada. Por qualquer coisa atemporal. Como a morte do Ayrton Senna. Ou a infância roubada do Michael Jackson. Chorarei por ontem, por hoje e pelo amanhã. Pelos meus pais, irmãos e futuros filhos. Por cada não que ouviram da vida. Chorarei por todos os tombos que levei desde que aprendi a andar. Por todos os amigos que foram por algum motivo. Chorarei pelos amores que não vieram e pelos o que não vivi por medo. Chorarei pelo troco errado. Pelo pneu furado. Por cada cicatriz do meu corpo. Pelo meu livro não publicado. Chorarei tanto. E o quanto puder. E voltarei seca para casa mesmo com o cabelo molhado. Seca por dentro. Mas, não chove. Não corro. Não choro. Não coro. Não como.
Nada de temporal à vista, apesar do meu mal tempo...

E para amanhã: previsão de sol, nuvens claras e um leve bem estar.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Minha Marginal

Trânsito parado. Olho para o lado. Uma criança faz careta para mim. Na minha época, eu só fazia tchauzinho. Mas, tudo bem. Acho graça assim mesmo. No outro carro, um casal de velhinhos. Imagino quantas bodas estão juntos e ainda conversam. Tanto que nem percebem o trânsito parado. O caos. O estresse. Olho para eles e por um instante esqueço também onde estou. Ligo o rádio. E de repente, aquela canção. A nossa. E eu nem tive tempo de fazer as pazes com ela. Mas, não mudo de estação, não. Alguém a dedica para outra pessoa. Que não sou eu. Que não é você. Sorrio. Confesso que nunca pensei em outras pessoas dançando os nossos passos. É, o amor vai em frente. Ele não fica preso na marginal Segue fingindo ser igual para todo mundo. E único, somente para mim...
...como aquela música que todas as pessoas cantam.
Mas, só eu entendo a letra.


Biiiiii. Buzinam. Devo seguir?

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Insônia

Três horas da manhã. E eu por ora. Eu sem, ora. Queria ouvir uma música que me trouxesse você. Que dor. Ardor. Adoro. Amor? Uma música que me falasse desse seu soul. Três horas da manhã. E eu senhora. Cem por hora. Sem Paulinho da Viola...

Quatro horas da manhã. O tempo voa. Os meus pensamentos também. Ora em você, ora em nada. Hora vaga. Vagalume. E vanguarda. Eu queria roubar você. Por um segundo. Por uma hora. Para o meu quarto. Sem demora...

Cinco horas da manhã. Esta é a hora da troca de guarda de quem não tem rei. Nem coração. Ação. Só hora. Só oro. Sem fé. Cinco horas da manhã. E o ponteiro insiste em marcar um tempo que já se foi para sempre...

Seis horas da manhã. Hora de levantar. Já? Estou com preguiça de me maquiar. Arrumar. Esconder as minhas olheiras. Todos vão perceber e dizer sobre as horas que passei...
... e você ficou!


Saio, então, de óculos escuros!

sábado, 10 de outubro de 2009

o respeitável CIRCO da vida

Sentia-se artista. Um malabarista da vida. À cada hora equilibrando alguma coisa. Equilibrava-se em sua corda-bamba. Ora caia, ora ficava em pé. Era desempregado. Fazia bico. Fazia mágica para sobrar dinheiro. Mas, não sobrava, não. Matava um leão por dia. Era feliz assim mesmo. Com fome de pipoca e algodão-doce. Desejava que a vida fosse uma matinê de domingo. E sonhava. Sorria...
...como um saltimbanco trapalhão.

Só não gostava de ser palhaço do coração dela.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Matemática

Ela tem dois cestos de roupa suja para lavar. Vida dura, ela reclama! Mas, quem mandou acumular? Soma e multiplica-se. Jornada dupla de quem trabalha fora e depois volta para casa. Doce lar. É cuidadora. Cuida de um bebê e dezesseis avôs. Ganha o seu dinheiro assim e o divide entre os seus irmãos. Subtrai todas as suas alegrias e vontades. Mas, não perde a sua fé, não. Cem por cento crente, de alguma coisa. Reza o seu terço diariamente. Tem esperança de passar meia hora em outro lugar. Naqueles braços, dentro de um quarto.
E não liga a mínima de ir para os quintos do inferno pensando assim.

À noite, equaciona um jeito de isto acontecer...

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Sede

Cede!
Sê.
Seja de alguém.
De mim?
Estou com sede.
Que não passa,
não passa...

Nem com água com gás.

Esta sede que não cede já tem sede dentro de mim (e até filial)... há muito tempo.

sábado, 3 de outubro de 2009

Samba

(Em homenagem ao Rio. Principalmente à Lapa e ao seu samba que me roubou até ao amanhecer).

Você tem uma tristeza no olhar que te embeleza de algum modo que não sei explicar. É mistério. E essa vontade enorme de querer saber mais vem de você, não é? É mágico. É imã. É sol. Você é ritmo. Melodia e letra. Destas, que dá vontade de chorar de tão linda que é. Mas, não é bolero, não. É samba.
Você é samba, sabia?


"Organizaste uma festa em mim e é por isso que eu canto assim: la la laiá, lalaiá, lalaiá"

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Pre-texto

Eu invento algum pretexto para lhe ligar. Para lhe falar. Para saber de qualquer coisa: da chuva, do trânsito, do frio. Pergunto se devo escrever sobre a coragem. Você responde que sim. Escreva. Mas, não escrevo, claro. Não posso. Não devo. Como falar sobre aquilo que não sei? Que não sou. Falta me ousadia para dizer o que sinto. E sinto tanto. Sinto muito. Aí escrevo um pré-texto, ou dois. Uma quase poesia com uma certa tensão, na pretensão louca que você me leia nas entrelinhas. E descubra que eu nunca quis lhe perguntar nada...
... E só queria ouvir sua voz.